GOSTO DE TI DAQUI ATÉ À LUA
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Muitas vezes a minha filha perguntou:
- Mãe gostas de mim até onde?
- Gosto de ti até ao infinito, e tu?
- Gosto de ti até ao céu, então gosto mais de ti.
- Porquê?
-Porque o céu fica mais longe
Ao fim de um ano estas palavras foram música para os meus ouvidos, como é que uma criança que só nos conhece apenas há um ano já questiona o tamanho do nosso amor por ela ?
Só que nesta fase a Diana ainda não tinha a noção das distâncias, como ainda hoje com 15 anos não sabe as horas analógicas, só as digitais, está a ser uma aprendizagem gradual, por exemplo se lhe dissermos que tem que estar num sitio qualquer, às duas e meia, ela pergunta:
- Diz-me as horas certas
- catorze e trinta
- Ah! já entendi.
Ainda existem arestas por limar, mas com o tempo juntas vamos lá chegar, se não fôr hoje, amanhã chegaremos, o importante é chegar.
Foi noticiado, não me recordo concretamente quando, que só este ano foram devolvidas 43 crianças em processo de pré-adopção, causa-me estranheza pois quando fui pesquisar, a informação é que 20 tinham menos de dois anos, ora bem será isto verdade? Faço esta pergunta porque a maior parte dos pais adotantes preferem crianças com esta idade ou mais pequenas ainda, e a espera é deveras longa, se dissessem que 20 tinham idades superiores a 5 anos ainda entenderia mas bébés, onde vai a imprensa buscar esta informação? Será a Segurança Social que a divulga, tenho as minhas dúvidas, mas passando à frente, tudo isto como diz na giria é " um pau de dois bicos, passo a explicar o meu ponto de vista.
Quando adotei a minha filha também houve momentos em que me apeteceu devolvê-la, não é fácil, mas como costumo dizer a adoção é uma conquista mútua, a Diana teve que me conquistar e eu tive que a conquistar a ela, isto não é trabalho de uma só pessoa.
Entre devolver e fazer como aquele pai adotivo que violou as tês filhas e engravidou uma delas, o que teria sido melhor, provavelmente devolvê-las, não me venham com demagogias que a Segurança Social devia blá,blá,blá, nenhum ser humano está dentro do outro, ninguém pode adivinhar que aquele sujeito tinha tendências pedófilas, isto é como aqueles trágicos casos em que as mães/pais biológicos, matam os filhos porque querem atingir o ex companheiro/a, e estamos a falar de filhos de sangue, quem poderia prever um fim tão trágico para aquelas crianças?
Eu sei que a devolução é uma dupla rejeição, mas as crianças têm um poder tão grande para superar situações que é inexplicável, sofrem sei que sim, mas acreditem, são tão bem recebidas nas instituições, falo por experiência própria, pois na Casa de Cedofeita, instituição onde estava a Diana, as voluntárias eram tão meigas com as crianças, aliás algumas delas até gostavam de adotar uma ou outra criança, mas penso que não lhes era permitido, não tenho bem a certeza. Mas eu presenciei, vi o amor e a dedicação que tinham pelos miúdos.
No caso da Diana por exemplo, ela antes de ir para instituição, tinha 3 anitos, andava na rua, por esse motivo furou os tíampanos, devido ao frio e outros fatores, deve ter sofrido horrores, mas o que é certo é que até à data, em nove anos nunca fui com ela para uma urgência, nunca esteve doente, tirando resfriados no inverno, porquê? Porque ganhou defesas, e ainda bem, aguenta bem a dôr, nunca chorou quando se magoava, dizia sempre, não doi, isto não é nada, e eu nada fazia nada, nem insistia, não queria que virasse um "vidrinho", querendo com isto dizer que eles têm uma força superior à nossa, ganham resistências e seguem em frente .
Sei que é triste, as crianças não são uma roupa que se compra, leva-se para casa, como no meu caso que só experimento em casa,e depois devolve-se por este ou aquele motivo, mas contudo mais vale fazê-lo, pois se não houver uma empatia entre pais e filhos adotivos não haverá amor, e é isso que eles precisam, o motivo pelo qual devolvem só a eles diz respeito, mas tenho a convicção que não o fazem de ânimo leve.
Quantos pais biológicos já não se terão arrependido de ter um ou outro dos seus filhos, mas nunca o manifestou?
Hoje foi devolvida, amanhã vêm os pais perfeitos, é uma questão de tempo, e algo melhor virá, nada acontece por acaso, existe sempre um motivo para tudo.
Hoje sofrem amanhã serão as crianças mais felizes do mundo.
Quem nos diz a nós que até ficam felizes por voltar? quem nos diz a nós que algumas delas até se aperceberam que não iriam ser felizes com aqueles pais?
Pensem nisto.
Mais uma vez recebo uma chamada da Segurança social, Dra Paula Amorim, assistente social, a Diana tinha 9 anos, tal como disse os contactos mantêm-se mesmo após a adoção definitiva, a pergunta foi:
- Paula já contou à Diana que ela é adotada?
- Não ainda não
Indignação
- Não pode ser tem que lhe contar!!!!!
Liguei de imediato a uma amiga cujos dois filhos eram adotados e ela confirmou, sim tinha que lhe contar.
Lembro-me como se fosse hoje, vinhamos da piscina a pé para casa e pelo caminho, ela toda contente e aos saltinhos, como sempre, eu disse:
- Didi sabes que és adotada, não sabes?
Parou, olhou para mim e disse:
- Mãe foi a coisa mais triste que me disseste até hoje!!!
Bolas, o meu coração parou, que havia de fazer? Não haverá por aí um manual que nos ajude a lidar com esta situação?
A Diana continuou
-Mãe não nasci da tua barriga?
- Não filha nasceste do meu coração.
- Mas eu preferia ter nascido da tua barriga.
Bolas! Bolas! E agora?
- Fofinha a barriga serve unicamente para guardar os bébés o amor está no coração das mães.
Não respondeu.
Chegamos a casa e imediatamente fui procurar o livro Grávida no Coração, livro esse oferecido por uma grande amiga que assim que soube que eu iria adotar, e comecei a lê-lo, não queria ouvir, enfiou-se na cama debaixo dos lençois e dizia:
-Não, não quero ouvir,não quero saber.
Parei de ler e deixei o livro em cima da cama, quando dei conta estava a ver as ilustrações e pediu para lho ler, ouviu, nada disse e até à data, 6 anos depois não voltamos a falar no assunto.Guardou esta informação em mais uma gaveta da sua cabecinha, fechou-a e guardou a chave.
Aconselho este livro a todos os pais adotivos, tem poucas páginas, letras grandes, frases simples, que dizem tudo , e ilustrações muito bonitas , tenho-o sempre à mão, tem uma frase que adoro, após várias perguntas da criança, a mãe faz esta observação:
- "O PAI NÃO ENGRAVIDA , NO ENTANTO, AMA OS FLHOS DESDE O PRIMEIRO DIA E PARA SEMPRE".
A Diana não tem pai contudo esta frase é dedicada a todas os pais adotivos.
Antes de ser operada e tal como disse a Diana adorava água, aliás ela veio para mim com hábitos de higiene fabulosos, não pensem que tudo é mau nas instituições, é mau estar numa instituição, mas por vezes infelizmente não há alternativa.
Quando ia para o banho ela pedia-me:
- Mãe faz-me um banho de piscina.
Um banho de piscina era fechar o ralo da banheira, enchê-la um bocadinho e ela nadava naquele pequeno espaço, estava lá tanto tempo que saía com a pele toda enrugada, sempre com os ouvidos protegidos, pois eu sabia que ela mergulhava a cabeça, arrisquei , sim arrisquei, mas dava-me dó quando ela com aqueles olhinhos tipo, gato das botas, no filme Shrek olhava para mim e mo pedia.
No meio de todas estas "trocas e baldrocas" eis que surgem as consultas no Pedro Hispano, algo muito importante no processo de adoção, era o inicio de uma nova etapa muito importante para a Diana.
Ora começamos pelas consultas de otorrino, claro, a Diana continuava com os tímpanos furados e era preciso operar, no Santos Silva a indicação é que seria aos 12 anos, no Pedro Hispano, nem pensar, assim que a pequenita fizesse 8 anos seria operada ao ouvido direito, o que estava em piores condições, e assim foi a Diana fez 8 anos em Maio, Junho já estava internada, ficamos lá 3 dias e graças à Dra Paula Azevedo tudo correu maravilhosamente bem, fizeram um enxerto no ouvido e construiram um tímpano, fantástico, o problema é que no mês de recuperação conseguir parar uma criança que estava ligada à "ficha" não foi fácil pois ela nem espirrar podia, teve que tomar o aerius para evitar espirros, mas por acaso a pequenita tinha a noção de que não podia ligar o turbo, pois uma vez ligou-o, e caiu da cadeira , pois ficou tonta, susto, grande susto, como iria explicar à médica que por me ausentar 1 minuto prejudicara tudo? Nem é bom pensar.
Mais um ano passado a Diana em Junho é operada ao ouvido esquerdo, novamente com sucesso, finalmente a pequenita após boa recuperação podia tomar banho sem tampões nos ouvidos, por mais incrivel que possa parecer a miúda adorava tomar banho, adorava àgua e quando entrava em contacto com esta, tinha que usar touca e algodão embebido em nivea, a nivea da caixa azul, a mais pegajosa, um terror para limpar os ouvidos depois, estão a imaginar,não?
Esta cena da nivea aprendi com a Dra Paula, lá está, ela veio da instituição com a indicação do Santos Silva que devia usar tampões, não podia, o tampão deixa entrar a água, a nivea não, mas mesmo assim tinha que ter cuidado com os banhos. Quando me foi permitido inscrevi-a na piscina , foi a cereja no topo do bolo ela andou lá até se cansar de tanta água, aquela criança engoliu litros e litros, os professores bem a queriam ensinar a nadar mas eu só a via pular,merguhlar, pular mergulhar, foi um consolo, mas aprendeu a nadar.
O meu pai acordou, e disse que lhe tinha desaparecido uma meia, foi o gato, entrou no quarto deles, "roubou-lha" e levou para o andar debaixo, por isso quando fui tomar o pequeno almoço, estava uma meia no corredor, pensando eu que era do vizinho, já ia pendurar na porta, pois ele "rouba" as meias dos entendais dos vizinhos, por acaso nesse aspeto até são porreiros pois nunca reclamam, eu devolvo sempre.Com este gato é sempre uma aventura.Mas convenhamos o pessoal ainda está a dormir, este gajo dorme de tarde e de manhã é um circo.