Só há bem pouco me apercebi que a Diana e a minha mãe têm duas histórias de vida muito semelhantes.
Daí o amor incondicional que a avó sente pela neta.
A História da avó
Foi abandonada aos 4 anos de idade juntamente com mais três irmãos e entregues a uma tia, que para além de já ter uma filha, ser muito pobre, os aceitou.
A minha avó após ter-se separado do primeiro marido e ter casado segunda vez, decidiu ficar com os filhos do segundo marido.
Entregues à tia os irmãos tiveram que ir trabalhar muito cedo.
A minha mãe com sete anos foi trabalhar para os Condes de Riba D'Ave, conta ela que era tão pequena quando para lá foi que ao dar a sopa ao filho dos patrões que era ainda mais novo que ela,este conseguiu pegar na colher e abrir-lhe a cabeça.
Uma sardinha tinha que dar para três.
Comia sopa de urtigas pois a tia não tinha mais para lhes matar a fome.
Para lhes adoçar um bocadinho a amargura da vida , a tia que vendia doces na praça trazia as migalhas para eles comerem.
A minha mãe passou fome, passou frio pois andava descalça, a tia não tinha dinheiro para os vestir e calçar, mas o mesmo acontecia com a sua filha, não havia descriminação.
A minha mãe hoje conta estas histórias mas não com rancor, e sim com alegria pois se não fosse assim, agora não seria a mulher que é, uma grande mãe e uma grande mulher, só tem a quarta classe mas isso a mim não me faz qualquer mossa, é minha mãe e amo-a incondicinalmente e tenho medo de a perder.
Quando a minha avó decidiu ir buscar os seus filhos, estes não aceitaram, preferiram a tia em detrimento da própria mãe e a tia aceitou-os.
A minha avó com tanta inveja decidiu "atacar" a irmã, e foi a minha mãe que as separou puxando os cabelos à própria mãe.
Só o admitiu anos mais tarde.
A minha avó ficou estupefacta.
Porquê?
Porque simplesmente............
Ela defendeu a pessoa que os amou com o pouco e muito que tinha, amou-os com pouco dinheiro e um grande coração.
Esta tia ensinou-os que apesar de pobres deviam ser sempre honestos, sempre.
Se chegavam a casa com algo que lhes davam, a tia ia indagar se era verdade,
O padastro era rico, podia ter-lhes dado uma vida melhor, mas a minha avó assim não o quis.
A História da Diana
Filha de uma mulher deficiente profunda.
Como nenhum familiar quis cuidar dela, com medo que ela fosse deficiente como a mãe, abandonada, andava na rua com apenas três anos de idade.
Os vizinhos é que a alimentavam, pois mais niguém o fazia.
Passou fome, talvez.
Andava com a fralda o dia todo,como andava na rua fizesse frio ou calor, os timpanos furaram.
A Diana deixou de ouvir, associado a isso deixou de saber falar, daí além do deficit cognitivo herdado da mãe a falta de estimulo a nivel de aprendizagem que todos os pais ou familiares dão aos flihos, a ela foi-lhe negado.
Tal como a avó foi entregue aos cuidados de outrem, e foi para uma instituição.
Ao contrário da avó não teve que ir trabalhar cedo.
Foi adoptada.
Ao contrário da avó a partir dos quatro anos, deixou de passar fome.
Ao contrário da avó deixou de passar frio.
Ao contrário da avó tem roupa e calçado, não passa frio nem anda descalça.
Ao contrário da avó,agora tem uma família.
Ao contrário da avó está a estudar para mais tarde ter um trabalho condigno.
Mas tal como a avó agora tem amor, carinho, a avó teve uma tia que lhe dava isso em pedaços muito pequenos, a Diana tem isso em pedaços muito grandes.
Tal como a avó é-lhe incutido além de outros valores, o da honestidade.
Estas duas histórias estão tão ligadas, não por laços de sangue mas por uma história de vida.
A avó tem na neta um reflexo da sua vida e com a qual de identifica.
Noia por arrumações, fico mal disposta mas mesmo mal disposta se não tiver tudo limpo, neste momento estou mal disposta.
Chata, sou muito chata, principalmente com aminha filha, estou sempre a fazer as mesmas perguntas:
-Lavaste os dentes?
-Tomaste a pastilha?
Acho que a miuda já responde em modo automático.
Não tenho pachorra para lamúrias a autocomiseração, do ai coitadinha de mim.
Tenho o coração muito perto da boca, não tenho travão, preciso de um travão pois não vamos a lado nenhum sendo assim, já cheguei à conclusão que mais vale dar "graxa".
Sou muito directa, os meus colegas de trabalho elogiavam-me por ser assim, mas a primeira a vir embora fui eu. Já vieram embora outros colegas, mas eu fui o primeiro alvo.
Já fui um alvo a abater há uns anos mas ainda estava na empresa o patrão que gostava de mim assim, gostava acima de tudo do meu trabalho. Tanta falta nos fez esse patrão, após a sua saída a empresa entrou numa espiral de má gestão, que pena uma empresa tão antiga e tão conceituada
Para já é isto pode ser que venha a acrescentar mais coisa mas não agora não me ocorre mais nada
É como uma grande nostalgia que escrevo este texto.
Há por aí algures uma mãe que não sabe que a filha fez 16 anos.
A mãe biológica da Diana como já mencionei é ou era ( pois não sei se é viva) deficiente profunda.
Fizeram-lhe mal, por isso este texto não é para o pai, nem para a família.
Este texto é para ti, estejas onde estiveres.
A tua filha, a nossa filha fez 16 anos este mês.
Deves estar feiz.
De certeza que estás, pois tu tal como ela foste uma vítima.
Vítima das circunstâncias de uma vida que não pediste.
Tiveste uma filha que a tua família não quis cuidar.
E foi-me entregue a mim.
Pois digo-te.
Ela está bem, muito bem.
Tem á volta dela pessoas que amam profundamente.
Pessoas que se preocupam com ela.
O avô então é demais.
É feliz.
Vou-te dizer como ela é:
Alta, muito alta.
Magra muito magra.
Elegante, muito elegante.
Vaidosa.
Morena, muito morena, na escola é conhecida como e morenita.
Não sai a mim
Teimosa, é Touro, logo se não sabes vou-te dizer os Touros são teimoso.
Meiga.
Solícita, explico-te, pedes-lhe qualquer coisa e ela prontifica-se de imediato, resmunga ai como resmunga, mas faz tudo o que lhe pedes.
É doce.
Não faz mal a ninguém, não vê maldade em nada.
Tal como eu, nem um caracol ela pisa, deixa-o ir à sua vida e passa ao lado, é incapaz de fazer mal até a um caracol imagina só, é incapaz de o pisar logo estás a ver como ela é com as pessoas.
Sai a quem?
A mim ou a ti?
Desarrumada, não sai a mim.
É preguiçosa para os estudos.
Adora ir para a escola mas apenas para estar com os amigos.
A escola para ela é diversão.
Quando era pequena acordava sempre bem disposta, agora não.
É pontual.
Incuti-lhe essa regra
Nunca chegou atrasada ás aulas.
Nunca chega atrasada aos escuteiros.
Nunca chega atrasada quando se vai encontrar com os amigos.
Não sei que mais dizer da nossa filha.
Mas onde quer que estejas, espero que estejas feliz com a nossa menina.
Ela está bem.
Eu estou a tomar conta dela por ti.
É a minha fofinha.
Chamo-lhe fofinha, pois ela é assim, um doce.
Mas também é uma safada e cansa-me a beleza.
Manda-me mensagens sem fim.
Tantas que até me cansa.
Tantas que me zango com ela.
Confesso que não foi fácil domar a fera, mas lá consegui.
Confesso que já tive que lhe dar umas palmadas, perdoa-me, mas teve que ser.
Onde quer que estejas com toda a certeza que estás a ver-nos e ris-te do que esta safada é capaz.
A tua filha fez anos.
Tem 16 .
Mais dois anos e pode ser que ela vé à tua procura.
Não sei se estás aí.
Mas onde quer que estejas, tenho toda a certeza que tu é o anjo da guarda que sempre pedi que a protejesse de todo o mal.
Continuamos com consultas no Hospital, os médicos não lhe dão alta, nem pensar, querem o melhor para ela, hoje é isto, amanhã já é aquilo, já ando nesta correria há 10 anos, há 10 anos que não saio do hospital, mas tudo o que seja para o bem dela é para o meu bem também.
Não te preocupes pois os médicos são muito cautelosos com ela, muito atentos.
Já conhecemos de cor todos os corredores do Hospital.
Não concordo muito com esta definição da palavra Detrimento.
Como mãe deixo fazer algumas coisas em detrimento da minha filha.
Não me causa dano,perda,estrago material ou moral.
Para mim prejuizo é a definição mais plausível.
Aqui no Porto começaram as festas municipais, neste caso e no local onde moro, o Sr. de Matosinhos.
E como toda a adolescente a minha filha pede insistentemente para ir com as amigas.
Não, sozinha com as amigas não vai. Vai comigo.
Sei como a coisa funciona, já passei por isso, mas eram outros tempos, sou uma cota, sim sou, mas eram outros tempos.
Ontem foi com as amigas, mas só o permiti pois foram acompanhadas pela mãe de uma delas e o irmão.
Estas idas ao Sr. de Matosinhos têm o seu custo e não é pouco, devo dizer.
Cada divertimento são 3 euros, e por norma eles gostam de andar em mais que um e nos mais "loucos" possíveis, a minha pelo menos desde pequenina, já com 7 anos só queria esses, eu queria os aviões, aqueles que têm um pedal e que sobem e descem conforme a nossa vontade, ou o dragão, mas mesmo nesse.........medricas, até os pequeninos gostam do dragão.
Paula que vergonha, para quem andava no twister vezes consecutivas, o que se passa contigo?
É a idade, comecei a temer mais, principalmente a temer pela minha vida.
Mas a miúda não, a miúda adora a sensação, a adrelina no seu estado puro.
Faz parte.
Já passei por lá.
Depois é uma ida ao cinema, todos aqueles que têm por hábito ir ao cinema sabem o custo.
Depois são as festas de aniversário.
Isto tem sido uma alegria.
Assim sendo, deixo de fazer coisas que gosto em detrimento da minha filha.
Não quero com isto dizer que ela vá a todas, há limites, como é óbvio.
Tudo com conta peso e medida e sabendo "negociar", sim negociar.
Quer muito uma coisa, não pode fazer outra, não pode mesmo.
Mas também o permito pois como já disse num post anterior só agora é que a minha filha começou a ter amigas e a ser convidada para festas de aniversário e saídas.
Só agora com 16 anos é que ela sabe o que é a amizade e o convivio com os amigos e eu não a posso privar de tal.
Faz parte do crescimento, faz parte daquilo a que chamamos felicidade.
E ela sente-se feliz.
E o que quer uma mãe para os seus filhos.
Que sejam felizes.
Com uma agravente, também não gosto da palavra agravante, pois esta é uma oportunidade única.
Este ano os pioneiros vão a Itália, vão ao Vaticano estão a angariar dinheiro de modo a que o custo para os pais seja o menor possível, mas é sempre uma despesa, mas esta oportunidade não a vai perder, esta não.
Logo em detrimento da felicidade da minha filha privo-me de fazer coisas que gosto.