Para aquele que já foi Herói, aliás é o meu herói.
Aquele que nos dava um beijo todas as manhãs antes de ir trabalhar, e dizia "até logo meu grande chi que significava filho, e até logo minha grande chia que significava filha", e que adorava contar como foi a vida dele.
Uma vida dura mas com momentos felizes pelo meio.
Vida essa que ainda hoje recorda e nos contas vezes e vezes sem fim.
Porque ficaram marcas,muitas marcas.
Ficaram chagas abertas que não conseguiu curar.
Que sempre tinha uma resposta para tudo, mas que não tinha vergonha de dizer que não sabia.
Aprendi tantas coisas com ele, algumas coisas ainda guardo até hoje, e ainda me servem, e ainda são tão verdadeiras… Outras devo ter deixado pelo caminho, no difícil exercício de crescer.
Se me examino mais de perto, ele está sempre lá, aliás, aqui, dentro de mim… no minha maneira de pensar, na forma mais optimista e ingénua de ver a vida, achando sempre que vai dar tempo, que vai dar certo, que o trânsito não atrasa, que o acaso sempre ajuda, na desorganização com as coisas pequenas, na incapacidade de prestar atenção aos detalhes para ver o todo.
Não existe nenhum lado em que eu olhe para mim mesma que eu não o encontre em algum lugar.
Dos homens da minha vida, ele sempre foi o que mais me deu apoio, me deu a mão, mas sem nunca emitir um juizo de valor.
O braço e o abraço.
Tem muitos defeitos, é certo, mas quase nenhum como pai.
Se os tem, não lembro, não registrei.
Prefiro lembrar-me de todo o tempo investido em me fazer crescer, me apoiar, me incentivar, me dar colo e carinho.
Talvez ainda persista em mim, aquela menininha que insiste em vê-lo como herói… O meu!
Sempre me fez sorrir, tinha uma certa incapacidade de me fazer chorar. Mas sempre me fazia feliz… Para ele, todo o amor do mundo,todo o meu amor!
Para ele, as minhas orações, minhas preces e boas energias!
Por ele, a minha caminhada, a minha luta e a minha estrada… Com ele, em todos os momentos, inclusive os que eu estou distante, porque é parte de mim!
Porque se fosse para escolher de novo, hoje, amanhã ou nos próximos mil anos, quando não houver mais tempo, nem espaço, nem matéria, nem nada, escolheria-o sempre a ele como meu pai.
Sei que a experiência de ser filho(a) é única, singular e intransferível, que mesmo entre irmãos é possível e bastante comum que não se tenha a mesma visão sobre o pai ou sobre a mãe.
São muitas as variáveis que actuam na forma como nos relacionamos com o outro.
Não acho que a minha forma de me relacionar com o meu pai seja melhor ou pior do que qualquer outra. É apenas diferente… É a minha!
Mas torço bastante pra que muitas pessoas se identifiquem com ela, não porque ela seja perfeita, longe disso, mas porque ela é bonita.
E orgulho-me muito da relação que conseguimos estabelecer.
Digo conseguimos porque uma relação é sempre uma construção.
E é aqui onde quero chegar.
Gostaria de propor um exercício de reflexão: que tipo de relação estamos a construir com o nosso pai, nossa mãe, nossos irmãos, amigos… Com as pessoas?
O que estamos a fazer para estabelecer relações mais verdadeiras e mais genuínas ao longo do nosso caminho?
O que estamos a dizer ás pessoas que são tão especiais sobre a importância delas nas nossas vidas? Espero que vocês possam eventualmente perder o tempo, o fio, a meada, a vergonha, mas não percam a oportunidade de construir uma relação (fazendo, dizendo, mostrando, perdoando, ajudando, visitando, ponha o verbo que lhe caiba) com seu pai, que faça mais sentido para vocês.
E aqui não importa se seu pai está vivo ou não.
Importa muito mais o significado que vamos dando ao longo da vida a essa relação tão especial.
Estamos sempre a tempo!!!
Afinal, quase sempre, “temos todo o tempo do mundo”…
Afinal de contas, a falsidade requer um alto grau de simulação espontânea.
Os falsos são super habilidosos para dissimular o que sentem.
Os falsos são gentis à sua maneira.
Os falsos dizem exactamente aquilo que esperamos ouvir.
São uns artistas, uns bons artista, os melhores, merecedores de um óscar.
Detectar a falsidade exige de nós muito foco, e, em geral as presas fáceis dos falsos costumam ser as pessoas distraídas, desatentas, desfocadas.
É nos momentos de distração e entrega que acabamos por cair na rede da falsidade.
Muitas vezes acreditamos mesmo que a maldade que supostamente estamos a ver ver está nas nossas mentes, na nossa mania de achar que temos “aquele sexto sentido torto” e que, por esse motivo, aquela atitude maldosa só pode ser uma fantasia.
Nesse momento, embora não saibamos, estamos a dar de bandeja ao outro as chaves dos nossos sonhos, das nossas fraquezas, das nossas ilusões.
Damos corda, e mais corda e mais corda.
E, quando já nos encontramos enlaçados, sofremos o golpe.
Não são raras as histórias de melhores amigos,colegas,família, que puxaram o tapete com pezinhos de lã.
Não são raras as situações em que vemos os nossos segredos mais secretos espalhados ao vento e ficamos aturdidos, a tentar descobrir de onde é que veio, quem deu com a língua nos dentes.
No entanto, verdade seja dita, não há algoz, vilão ou carrasco, caso não haja uma vítima disponível.
Não há história mal contada que vingue, se não houver aquele que ofereceu o enredo de mão beijada, a quem não se devia confiar uma única linha da trama.
Vítimas existem, até à página dois. Porque em geral no final da página um, os maus já começam a dar pistas das suas intenções.
E se não as vimos foi porque escolhemos tapar os olhos para as evidências.
Não é à toa que haja tanta falsidade no mundo.
Falsidade é erva daninha que aceita de bom grado as tempestades porque sabe esperar pacientemente pela luz e o calor do tempo que farão as sementes de confiança brotarem.
Brotarem, crescerem e tomarem conta de tudo.
O segredo é aprender a olhar mais além, reconhecer nas bocas dissimuladas aquilo que elas escolhem habilmente não dizer.
O segredo é olhar nos olhos, os olhos revelam tudo, porque brilham quando deveriam calar e usam da opacidade para ocultar o prazer de destruir.
O segredo é dar corda.
Quem fôr do bem, vai fazer um laço, e quem for do mal, vai acabar por se enforcar mais dia menos dia.
Só resta aprender direitinho a calcular o comprimento da corda, porque sempre haverá o risco de que ela acabe sendo suficiente para levar junto o nosso querido pescocinho.