Gosto de ouvir histórias de amor, gosto de conhecer pessoas que têm um casamento longo, nos dias que correm, digo do fundo do coração que fico muito feliz, para mim é a luz ao fundo do túnel, mas......
Há sempre um mas.
A P ficou viúva muito cedo.
Tinha duas filhas .
O marido morreu de repente, tinha 47 anos.
Fiquei incrédula.
Não queria acreditar.
Já não tinha ligação com a P.
Andamos a estudar juntas fomos grandes amigas, mas assim que começou a namorar com o falecido marido deixou tudo para trás.
Continuei com a minha vida.
Ela continuou com a dela.
Encontramo-nos quando a minha filha andava na piscina.
Sempre vestida de preto.
Não largava o preto.
Falamos de trivilidades e sobre as filhas.
Trocamos números de telemóvel.
Começamos a trocar mensagens.
Recebo uma mensagem dela a convidar-me para tomar o pequeno almoço.
Conversamos, relembramos velhos tempos.
Até que de repente a P começa a chorar.
Não entendi.
Começou a desabafar.
Após a morte do falecido marido, descobriu que este tinha amantes por todo o país, uma delas era vizinha deles e foi ao funeral.
Continuei calada.
Descobriu porque após 15 anos de casamento, e após a morte do marido decidiu ir ao computador dele.
Viu tudo no facebook.
Depois foi ao telemóvel, e viu tudo.
Com uma delas já tinha um relacionamento de 6 anos.
Perguntei qual era a maior dôr, a morte ou saber o que soube.
-Saber.
-Nunca contes ás tuas filhas, deixa-as ficar com a imagem que têm do pai.
-Não claro que não conto.
E chorava, eu não sabia o que dizer, ouvi apenas ouvi.
Preferia estar atrás de uma porta a ouvir esta conversa, tapar os ouvidos, não queria acredtar e fez-me deixar de acreditar cada vez mais, por isso não queria ouvir.
Confiava tão cegamente no marido que nunca se deu ao trabalho de ir ao computador, que segundo ela:
-Estava na sala, mesmo à minha frente, nunca tive curiosidade!!!!!!
E chorava, agarrei-lhe na mão e não soube o que dizer.
Ele trabalhava por turnos, ela também, as filhas muitas das vezes iam para os avós, nessa ocasião esteve lá em casa casa com uma das amantes durante uma semana.
Ela ia para o estrangeiro por motivos profissionais, foi nessa altura.
Nunca teria desconfiado? Nunca houve sinais? Se os houve não os quis ver?
Questionei-me tanto depois desta conversa!!!!!!!!
Os vizinhos de certeza que viram, mas todos se esconderam atrás da porta, quem não o faria? Quem teria coragem para lhe contar, sabendo que ela amava aquele marido tão cegamente?
Não sei como me sentiria se fosse adotado. A gente que sabe quem é o pai, quem é a mãe nunca para pra pensar nessas coisas. Hoje, porém, estava lendo dicas de como dizer ao “filho” que foi adotado. A tese básica é sempre a mesma: seja o mais natural possível. O texto me incomodou. Afinal, e o outro? E para a criança, é natural?
Fiquei pensando o que passaria na cabecinha dela. E quando o filho é adolescente ou adulto e descobre ser adotivo, o que sente? Não tenho resposta. Talvez alguém apareça por aqui e comende no texto, diga algo relevador. Sei apenas que já temos tantas inseguranças, complexos, culpas, medos, traumas… Por isso, penso: como se sente alguém que não tem sua origem definida?
Conheço algumas poucas pessoas que foram adotadas. Até parecem bem resolvidas. Entretanto, nunca perguntei “E aí, como é ser adotado? O que você sente?”. O assunto acaba sendo meio tabu. A gente finge que está tudo normal… O que temos com isso, né?
De fora, até questionamos quando algum filho adotivo demonstra revolta ou quer conhecer os pais biológicos. Apontamos que estariam sendo ingratos. É verdade que foram “salvas” por pessoas amorosas, dedicadas, altruístas… Mas já imaginou como essa pessoa se sente?
Cá com meus botões, acho que algumas se sentem um tanto rejeitadas, abandonadas, enganadas. Não ter uma origem definida deve “tirar o chão” dessas pessoas. Claro, não de todas. Porém, penso que não se trata de não se sentirem amadas pelos pais adotivos. Trata-se de saber quem de fato são, de onde vieram, qual poderia ter sido a história delas… Podemos até viver o momento, curtir os prazeres da vida, mas a existência reclama um sentido e a origem conhecida ajuda a formar nossa identidade, a apontar quem de fato somos. Mesmo quando há uma briga com a família, uma ruptura com os pais, é bom saber quem odiar.
Sabe, talvez este texto seja só uma “viagem” pessoal; um daqueles momentos que a gente divaga e vai do nada pra lugar nenhum. Ainda assim, entendo que pensar nessas coisas ajuda a entender o outro. Nem sempre é possível. Eu não sei como se sente um filho adotivo. Não conheço o coração. Como também não sei o que sente uma mãe que compra drogas para o filho… Não entendo o que passa na mente de uma mulher que introduz um celular na vagina para levar ao parceiro que está preso… Cada um, porém, tem suas angústias, motivações, verdades ou dúvidas. E, nessa complexidade do que é o homem, nos constituímos como sujeitos que guardam histórias de risos ou lágrimas, vitórias e derrotas.
Nas minhas viagens pelo mundo da Internet descobri este blog, e este texto que me deixou, como mãe adoptiva um bocadinho, para ser simpática, chocada, este Senhor, que é jornalista formado em psicopedagogia,mestre em letras e doutorado em Educação, tem direito à sua opinião como é óbvio, mas para uma pessoa tão bem formada, porque não perguntar a uma ou várias crianças adoptivas o que elas sentem, alíás devia perguntar principalmente a um ou vários adultos, e ouvir antes de falar sobre este assunto, porque é que sendo tão letrado e inteligente considera um tabu, fazer essa pergunta? Tirava as suas dúvidas e não dizia alguns disparates que publicou no seu blog.
E depois disso poderia vir ressalvar a sua opinião ou pelo contrário dizer" Desculpem, mas afinal estava errado"