Não, isso não é muito bom.
Nada bom
Quantas vezes nesta vida eu fui educada, serena e distraída em situações que precisavam que meu sangue fervesse no momento e de uma boa imposição de limites, de uma fala mais firme e forte e de atitudes de autodefesa imediatas.
E quantas vezes demorou para a minha ficha cair…. quer dizer, às vezes caía cinco minutos depois e eu via algo de absurdo a acontecer, mas por algum motivo, talvez por um excesso de empatia, por mais que eu estivesse a ser passada para trás, num primeiro momento eu acolhia o que de humano tinha a outra pessoa, eu tentava colocar-me no lugar dela e esquecia-me de me lembrar das minhas dores e feridas, do lado que me tocava.
O meu lado.
E lá fui aprendendo a cuidar-me sozinha em casa, com meus autodiálogos, com meus livros, amigos,pais, flha e escrita.
Mas tanta coisa eu queria ter dito e não disse.
Hoje lembro-me de algumas situações cruciais e no meu silêncio observador, na minha caridade para o absurdo do que se passava.
Quantas vezes a outra pessoa pensou que eu era nobre o bastante, altiva o bastante, segura e madura o bastante pois podia sair calma, evoluída e tranquila de um facto que no fundo me afetou muito.
Mas é aquela velha história, paz sem voz, paz sem vez, não é paz, é medo.
Serenar na frente de absurdos, dos absurdos inflingidos, é uma atitude de desamor de nós mesmos.
E ser empático com pessoas que estão a ser simplesmente idiotas connosco, é uma submissão e um fortalecimento da estupidez do outro.
Mais do que nunca é preciso estar atento e forte.
É preciso clareza e percepção, é preciso acção e fala.
É preciso o humano junto com a revolta e a serenidade junto com a não aceitação.
Que eu não seja cegamente explosiva, inchada de emoções à flor da pele.
Mas que eu também não seja submissa e passiva.
Que a alegria e a força feminina por vezes inflamem esta minha velha e ultrapassada nobreza.
E a minha mãe diz:
-Tens que mudar senão dificilmente conseguirás "segurar" um emprego.
E o meu pai diz:
-És como eu , não tens papas na lingua
E eu digo:
-Não gosto de engolir sapos.
E a minha mãe revira os olhos.
E o meu pai ri.
E eu penso que tenho mesmo que mudar, começar a trabalhar este feitio ou defeito.