OS FILHOS NÃO TÊM O DIREITO DE MATAR OS PAIS!!!!!!!!!!!!E OS PAIS TAMBÉM NÃO!!!!!!!!!!
Há uma brecha na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho/a se torna pai do seu pai ou da sua mãe.
É quando o pai ou mãe envelhece e começa a caminhar como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai ou mãe que segurava com força nossa mão já não se consege levantar sozinho.
É quando aquele pai ou mãe, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro do tempo para sair do seu lugar.
É quando aquele pai ou mãe, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela. Tudo é um corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai ou mãe, antes disposto e trabalhador, já não consegue tirar sua própria roupa e não lembra de tomar a medicação.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão inverter os papeis e aceitar que somos responsáveis por aquela vida.
Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para viver condignamente até chegar o seu dia.
Todo filho é pai da morte do seu pai ou mãe.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente a nossa última gravidez.
A nossa última aprendizagem.
É a fase de devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com o amor do cuidar.
E assim como mudamos a casa para cuidar dos nossos filhos, ao tapar as tomadas e ao colocar "barreiras" para os proteger, vamos alterar a disposição dos móveis para "criar" os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece na casa de banho.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra na banheira ou deitá-la abaixo e colococar um poliban.
A barra é emblemática. A barra é simbólica.
Porque o duche, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos dos nossos protectores.
Não podemos abandoná-los, inventaremos os nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos nas paredes.
Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é subir escadas mesmo sem degraus.
Seremos estranhos na nossa própria casa.
Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação.
Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e que um dia iriam precisar de nós?
Vamos arrepender-nos dos sofás que compramos, das escadas de tudo que os possa impedir de se magoarem.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste o filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Eu já me arrependi de comprar um duplex, os meus pais têm que subir e descer 16 escadas, mas por sua vez se não fossem as escadas o meu pai não exercitava as pernas, pois passa todo o dia sentado no sofá, já não tem músculos nas pernas, assim seja manteremos para já as escadas e o duplex.
Este texto tem muito a ver com a última e triste notícia da filha que matou a mãe.
Chocou-me.
Chocou-me porque a miúda se chama Diana.
Chocou-me porque a miúda também foi adoptada.
Chocou-me a morte macabra.
Chocou-me a coragem, a frieza.
Quem tem coragem de matar a mãe daquela maneira?
Chocou-me porque os filhos não têm o direito de matar os pais e os pais também não!!!!
Chocou-me porque o dinheiro tem valores maiores.
Chocou-me porque as pessoas já não têm valores.
Quando a Diana olhou para a mãe o que viu?
Quando a Diana olhou para a mãe o que não viu?
Por muito que eu queira arranjar uma explicação não a encontro.
Custa-me ouvir na televisão frisarem sempre que era filha adoptiva.
Os filhos bilógicos não matam os pais?
Onde querem chegar quando insistem que a Diana era adoptada?
Isso também me choca.
Oh!!!! Triste das coincidências.
A miúda tinha que se chamar Diana.
A miúda tinha que ser adoptada.
E estou aqui a escrever este texto a mais uma vez a CM TV a dar pela enésima vez a notícia, um psicólogo a analisar as expressões da miúda. Cansa.
Mas está em que parte do nosso corpo está escrito que uma filha que matou a mãe está a mentir para a televisão?
Expliquem-me por favor pois não entendo.