A MINHA MÃE É UMA IMPRESSÃO DIGITAL!!!!!!!!
A minha mãe não sabe ler nem escrever.
É analfabeta.
A minha mãe é uma impressão digital.
Nunca tive vergonha da minha mãe.
Tenho pena.
Foram as circunstâncias da vida.
A mãe abandonou-a e entregou-a a ela e mais 3 irmãos a uma tia muito pobre.
A minha mãe teve que começar a trabalhar aos 7 anos.
A minha mãe e os irmãos.
Mas a tia embora muito pobre cuidou deles.
Mas tinham que trabalhar, mesmo assim passaram fome, comiam sopa de urtigas, uma sardinha tinha que dar para três.
A tia tinha uma filha mas mesmo assim aceitou-os.
Morreu com 93 anos.
Só podia ser assim, pessoas tão boas têm o direito a morrer tarde.
Não sofreu, morreu de velhice.
Quando a minha mãe está a ver um filme com o meu pai, este lê-lhe as legendas para que ela possa entender o que se está a passar, gsoto desta cumplicidade.
Se tenho vergonha da minha mãe?
Não, nunca.
Tenho orgulho.
Embora sem saber ler e escrever a minha mãe trata das contas da casa como ninguém.
Quando entrou o euro, ela adaptou-se melhor que eu, que ainda hoje falo em contos, a minha mãe não.Ninguém a engana, nem tente enganar pois é esperta como um rato.
A semana passada fomos tirar o cartão de cidadão.
Perguntei:
-Queres que entre contigo?
-Não, não é preciso, vou sozinha.
Mas eu fui e entrei com ela.
Precisou da minha ajuda para algumas perguntas.
Quando chegou a hora de assinar, enervou-se e não estava a conseguir.
Só saiam rascunhos, os rascunhos de toda uma vida, mas desta vez não estava a conseguir.
A senhora muito simpática disse para ela não assinar.
Eu disse:
-Não assines pois se precisares de o fazer em qualquer circunstãncia e assinatura tem que ser exactamente igual à que estás a fazer agora.
Não assinou.
Agora toda e qualquer coisa terá como assinatura o dedo, a impressão digital, já devia ser assim há muito tempo.
Já tentei ajudá-la em tempos a escrever o nome, mas nunca quis.
A minha mãe sente-se bem assim, esta situação nunca a perturbou.
A minha mãe é uma força da natureza pois isto nunca a diminuiu ou a fez sentir-se inferior.
Está sempre em cima dos seus "tamancos".
E ai de quem tente fazer dela "burra".
Nem têm tempo.
Tenho a certeza que se a vida lhe tivesse proporcionado estudar aminha mãe iria muito longe.
Mas a vida assim não o quis.
E ainda bem, pois provavelmente não seria minha mãe.
Seria mãe de outra pessoa qualquer, ou não.
Toda a gente aqui nesta "aldeia" onde vivemos a respeita e muito.
Não tem papas na língua.
Uma dia destes ia eu tomar o meu café no pão quente e estava lá esta força da natureza a regatear sei lá porquê, mas quase tenho a certeza que o senhor do pão quente " puxou" por ela, gosta de a ouvir.
Saiu e eu fiquei.
O dono do pão quente disse às pessoas que lá estavam:
-Esta mulher sempre foi assim, não tem papas na língua, eu gosto dela assim, não fala nas costas de ninguém, quem quer gosta, quem não gostar paciência, eu admiro desta mulher.
Nesta aldeia todos conhecem a minha mãe e aminha mãe conhece toda a gente.
Tal como o senhor do pão quente eu também tenho uma grande admiração pela minha mãe.
Por isso digo a partir do mês de Maio a minha mãe é uma impressão digital.