QUANTOS ANOS TENHO!!!!!!!!!!!!!!!!!
Envelhecer é um privilégio, uma arte, um presente.
Nem todos têm a oportunidade de envelhercer.
Somar cabelos brancos, arrancar folhas do calendário e fazer anos deveria ser sempre um motivo de alegria.
De alegria pela vida e pelo que estar aqui representa.
Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do qual nos podemos sentir muito orgulhosos.
Temos que agradecer pela oportunidade de fazer anos, pois por esse motivo cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor…
As rugas fazem-nos lembrar onde estiveram os sorrisos
As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos.
Mas quando começam a aparecer, fazem-nos perceber quão efemera e fugaz é a vida.
Como consequência, frequentemente isso faz-nos sentir desajustados e incomodados quando na verdade deveria ser um motivo de alegria.
Como é possível que nos entristeça ter a oportunidade de celebrar o nosso aniversário?
Porque temos medo de que, ao envelhecermos, percamos capacidades.
Porque pensamos na velhice como um castigo, de maneira pejorativa e humilhante.
Do mesmo modo, fazer anos faz-nos olhar para trás e lembrar o que fizemos durante nossa vida.
Dizer obrigada por cada ano completo
Deveríamos agradecer à vida pela oportunidade de permanecer e de ter a capacidade e a consciência de disfrutar.
Que sentido tem lamentarmo-nos e queixarmo-nos por termos esta possibilidades?
Não é verdade que daríamos o que fosse para ter aqueles que perdemos ao nosso lado?
Por que não colocamos vontade na vida e deixamos de esconder os nossos passos?
Fazer anos deveria ser um motivo de alegria.
Cada dia conta com 1440 minutos de novas opções, de maravilhosos pensamentos, de centenas de matizes nos nossos sentimentos.
Cada segundo nos torna mais capazes de experimentar e de aproveitar todas as opções que surgem à nossa volta.
Cada ano é uma medalha, uma oportunidade para acumular lembranças, para fazer nossos os instantes para soprar as velas com força e orgulho.
Desejem continuar, cumprir sonhos, segundos, minutos, horas, dias, meses e anos…
E, sobretudo, poder celebrá-los com a vida e com as pessoas que o rodeiam e que tanto amam.
Muitas são as vezes em que não sinto ter a idade que tenho.
Só me lembro quando dou conta que já não tenho a energia de outros tempos.
Quando faço em 30 minutos aquilo que fazia em 15.
Mas faz parte.
E consigo ver isso refletido no meu pai.
Um homem que trabalhou duro.
Um homem que agora sofre as consequências.
Um homem que não tem medo de envelhecer.
Um homem que tem medo única e apenas de sofrer.
E sofre.
Tem dores, já mal se ergue, já mal caminha.
Mas ri.
Brinca com a neta.
Vai levá-la à escola.
Quando chega a casa senta-se no seu sofá o dia todo, é o seu porto seguro.
Mas contudo não tem medo da idade.
E adora o beijo que lhe é dado no seu dia de aniversário.
QUANTOS ANOS TENHO?
Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.
– José Saramago –