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Nunca pensei que fosse chegar a essa conclusão ou mesmo assumi-la em público. Mas o tempo urge, as situações amontoam-se, os factos se escancaram e então percebi que entre meu orgulho e meu compromisso em ajudar, escolho o segundo.
Desde que comecei a escrever este blog algum tempo se passou e muita coisa aprendi como mãe adotiva. Uma dessas coisas, talvez a mais importante, é que mãe adotiva ou mãe biológica é mãe. E ponto. Não há distinção. Nesse contexto a finalidade do blog fica ainda mais clara, pois a intenção é ajudar pais adotivos e também pais biológicos. Sejam candidatos ou já pais “em exercício”, tanto faz. Explico a seguir como cheguei a esta premissa a respeito de ter ou não ter filhos.
Ontem estava eu e no shopping quando, na direção oposta, vinha uma mulher e uma criança . A mãe ao telemóvel como se nada acontecesse ao seu redor. Não estava nervosa, aflita ou a falar em tom profissional, ela simplesmente conversava. Atrás dela, segurando um Kinder Ovo nas mãozinhas e cantando baixinho, sua filha. Vejam a cena: a mãe à frente, sem olhar para trás nem por um segundo para ver se a menina estava ali, sem estender a mão para a filha, sem andar ao lado ou ao menos esperar para ficar mais perto. A menina estava fechada no seu mundo, cantando baixinho, seguindo a mãe como alguém hipnotizada. Ganhara um prémio (o Kinder Ovo) para se calar e obedecia ás ordens veladas de não atrapalhar. No o estacionamento, a mãe à frente e a menina atrás, sem nunca olhar para ver se a filha estava ali de facto! Carros a entar e a sair, a menina atrás dessa mãe,sempre atrás,seguindo e aceitando sua posição de seguidora invisível. Fiquei a olhar, não é meu hábito, mas não consegui evitar. Aquilo teve o efeito de um soco na boca do meu estômago.
Fui para casa a pensar (ou Repensando) sobre tudo o que considero relevante numa relação parental. Não achava explicação a não ser a mais simples de todas: as pessoas hoje estão tão ocupadas de si mesmas que precisam urgentemente refletir sobre serem ou não mães e pais. As pessoas estão tão ocupadas de si que não conseguem mais a felicidade simples tampouco entregar-se a alguém que as ama e precisa delas. Parece demagogia, mas não é. Filho é um dependente para toda a vida, seja nos bons ou maus momentos, por norma recorrem aos pais. Se alguém não entende isso então, de novo, há que se repensar sobre a disponibilidade de ter um filho.
Não me refiro a ser capaz para gerar ou criar filhos. Falo de querer, de estar disponível, de olhar além do próprio umbigo algumas vezes durante o dia (e, se for um pai ou uma mãe mais dedicados pensar nesse filho 24 horas por dia, o que deveria ser uma realidade menos apavorante). A preocupação em ser bonita (o), em ser desejada (o), em ter dinheiro, em ter sucesso simplesmente anula a/o mãe/pai como alguém que se doa. Não dá para estar linda (o) sempre, pois é difícil então naqueles dias infernais com problemas de saúde ou financeiros, nas fases que pedem um olhar menos fútil sobre a vida.
É claro que eu não sou perfeita, pensei muito sobre isso, enquanto voltava para casa. Quantas vezes já falei torto com a minha filha porque estava zangada com algo que me incomodou? Quantas vezes me surpreendi e me repreendi internamente enquanto andava na rua e a minha filha me mostrava as coisinhas mais corriqueiras, imbuída de olhinhos maravilhados e eu com cara feia querendo andar mais depressa? Quantas vezes disse à minha filha que os problemas dela não são nada perto dos meus? Várias. Várias vezes. Porque isso acontece. Mas a gente deve saber parar, olhar para si própria e reformular essa conduta, até para o filho ver que somos gente normal e que mesmo assim acima de tudo este é o nosso compromisso e responsabilidade enquanto pais. Caso contrário, nem todo o dinheiro do mundo nos vai salvar do nosso próprio ego e nós vamos estar na lista das pessoas que teve filhos só porque sim.
Nos dias de hoje, com o endeusamento do indivíduo como um todo poderoso, ter filhos deve ser mesmo algo que se pensa e decide conscientemente. Os “acidentes” de percurso deveriam diminuir a cada ano até que deixassem de acontecer porque ninguém mais (ou quase ninguém) tem vontade de mudar a si mesma em função do semelhante.
Eu, que sempre acreditei que as pessoas aprendiam o ofício da maternidade ou paternidade quase que instintivamente, percebo que essa versão fica praticamente impossível nos dias de hoje. A intuição, os instintos, a percepção foram trocadas pelo consumo, pelo ideal de pessoa que deve ter filhos para completar seu quadro existencial independente de dar conta dessa responsabilidade.
Sendo assim, fica a dica. Pensem. Estamos em tempos egoístas, individualistas, altamente estéticos e materialistas. Ter um filho é quase o oposto disso tudo. Não dá tempo de pensar em nós, sobra pouca energia para estar maravilhosa (o), o sucesso e o dinheiro são um meio de sustentar outro ser humano que depende de nós. Dá medo, sim. Mas esse medo não deve ser maior que o desejo de encarar o desafio. E atenção: se o medo for maior que as mudanças, repense agora. Para ter um filho por ter apenas, não o faça.
Se você não consegue deixar de pensar em si, se sua prioridade é e sempre foi você mesma (o), vá com cuidado. Com poucos minutos num shopping repensei os meus conceitos, mudei um ponto de vista e cheguei à conclusão de que estamos sempre a tempo de mudar, de evitar ou de superar, de crescer. Seja lá qual for o caso, o que faz falta no mundo familiar é gente consciente. Porque filho que se torna um fardo é receita de infelicidade para todos e não haverá dinheiro no mundo que resolva essa questão.
Boa sorte nas suas escolhas, elas são muito importantes .
MÃES SEJAM FELIZES COM OS VOSSOS FILHOS COMO SOU COM A MINHA.
Eu sempre quis ser:
MÃE!!!!
ADOPTEI!!!
CONSEGUI!!!
SOU MÃE!!!