VIVO NUMA ALDEIA!!! BEM PODIA SER ESTA!!!
Vivo numa aldeia, não é esta mas poderia ser.
Vivo entre Matosinhos e Senhora da Hora
Vivo num local onde a pé, em 20 minutos, chego a estes dois locais
Vivo numa numa aldeia onde acordo com os galos a cantar e as ovelhas a balir
Vivo numa aldeia onde no Verão quando vou à varanda vejo o agricultor a plantar a batata, juntamente com mais pessoas, pois quase todos têm quintais e interajudam-se, a minha mãe está incluida.
Vivi numa aldeia onde vejo cultivar o milho e onde se faz a desfolhada, onde mais uma vez todos ajudam e onde todos comem e bebem à discrição porque os lavradores nesse aspecto não são de todo moderados.
Vivo numa aldeia onde novamente se juntam para a apanha da batata e mais uma vez comem e bebem até não poderem mais.
Vivo numa aldeia onde a minha filha pega na bicicleta e eu fico em casa tranquila, pois todos se conhecem e onde todos estão atentos, às vezes atentos demais, o que também é uma desvantagem
Vivo numa aldeia onde todos conhecem a minha mãe, por ter dois terrenos e por dar muita coisa do que cultiva, mas só a quem ela quer.
Vivo numa aldeia onde todos a respeitam e muito, mas ela também não permitiria o contrário, é uma mulher da aldeia, mas da ladeia mesmo, está tudo dito.
Vivo numa aldeia onde todos ficam apreensivos com a debilidade do meu pai, nunca pensaram que ele chegaria a este ponto.
Vivo numa aldeia onde todos respeitam o meu pai, pois não é a sua debiidade que faz dele um "troxa" tem um feitio do caneco, mas se o deixarem sossegado no seu canto a tomar o seu café e a ler o seu jornal, pronto nada a temer.
Vivo numa aldeia onde todos adoptaram a Diana também, jé pertence à casa.
Vivo numa aldeia onde no Natal e no aniversário, alguns vizinhos mais chegados, dão prenda à miúda e primo.
Vivo numa aldeia onde em festas de aniversário ou comunhões, convidava vizinhos para se juntarem a nós pois fazem parte da familia, agora já não há comunhões, já as celebrou todas e aniversários ela quer é estar com amigos.
Vivo numa aldeia onde um senhor que tem uma padaria vem todos os Domingos trazer 5 regueifas cá a casa, não cobra nada mas contudo leva legumes do terreno da mãe.
Vivo numa aldeia onde das cinco regueifas três são distribuidas pelos vizinhos, não precisamos de tanta regueifa
Vivo nesta aldeia desde que nasci, e não trocava este sítio por outro.
Nesta aldeia fui feliz, fui livre e brinquei na rua até a minha mãe ter que me vir chamar pois já eram hora impróprias para consumo
Nesta aldeia está a crescer a minha filha, mas já não há tanta liberdade, infelizmente, mas é que aqui ela é feliz, se eu lhe disser que vou sair de casa dos avós e vou para outro sítio qualquer, responde peremtoriamente que não, fica com os avós, e eu tenho a certeza que ficaria, foi aqui que se plantou, que foi regada e que ganhou raízes e flor.
Vivo numa aldeia onde se precisar de alguém para montar móveis ou furar paredes, pois o meu pai já não pode, basta atravessar a rua e o vizinho da frente de imediato se apresenta ao serviço.
Vivo numa ladeia onde as pessoas estão a envelhecer, pessoas com quem cresci, e por esse facto estão a morrer pois já ultrapassam os oitenta ou mais, é a parte mais aborrecida de viver numa aldeia.
Vivo numa aldeia onde a minha mãe vai a todos os funerais, pois conhece toda a gente.
Vivo numa aldeia onde eu vou aos funerais das pessoas que conheço há muito, que conheço há pouco mas que me tocaram de alguma maneira.
Vivo numa aldeia onde a campainha não pára de tocar, ora são pessoas à procura da mãe, ora são pessoas que vêm oferecer coisas à mãe, tem dias que canso de ser porteira.
Vivo numa aldeia onde as pessoas gostam tanto da pequenita que perguntam quando vai lá a casa fazer uma visita.
Vivo numa aldeia onde todos conhecem as cuecas cá de casa pois estendo a roupa na varanda virada para a rua, não tenho alternativa, mas pronto já ficam a conhecer um bocadinho da nossa intimidade.
Já vivi 10 anos na cidade, gostava, pois ía a pé para a Biaxa do Porto cisa que adoro fazer, ir à Baixa, mas voltava sempre para a minha aldeia, sempre gostei do meu espaço, do meu cantinho.
Vivo numa aldeia onde os vizinhos, quando lhes falta algo na despensa, tocam à campainha e vêm pedir à mãe.
ESTE É O SÍTIO ONDE MORO E ESPERO NUNCA TER QUE SAIR DAQUI