UM AVÔ QUE NÃO GOSTAVA DA NETA!!!!!!ATÉ QUE CERTO DIA!!!!!!!!!
Quando adoptei a Diana o meu pai não gostava da miúda.
Quando digo não gostava,digo, não lhe tinha amor.
A miúda era muito agitada.
Andava sempre ligada à electricidade.
Mas não era isso que o incomodava.
Era o facto de quando chamada à atenção ela tinha por hábito encolher os ombros e bater as mãos uma na outra como quem " quero lá saber".
Isto fazia muita confusão ao meu pai.
Do ponto de vista dele, a miúda não devia ter estas atitudes com a mãe, eu.
O que o meu pai não entendia é que a Diana ainda não era minha flha.
A Diana não me via como sua mãe.
Eu era uma estranha.
E como ela fazia isto com todos os estranhos!!!!!!!
E o meu pai continuava a não gostar da neta.
Não equacionava mandá-la de volta para a instituição, não, era peremptório quanto a esta questão.
Mas não entendia o que era uma adopção.
Para ele eu era mãe.
Era um dado adquirido.
Mas não é assim.
Mas não havia maneira de o fazer entender.
Recordo-me que uma vez, cá em casa, no meio de uma confusão, casa cheia, com familaires, tudo a falar a miúda estava a fazer das dela juntamente com outros miúdos e o meu pai já irritado com a confusão, pega nela pelos braços e atira-a para o sofá, atirou-a literalmente, esta imagem não me sai da cabeça, mas ela já nem se lembra, a pequenita começou a chorar copiosamene eu também.
Não foi justo.
Não era ela que estava a portar-se mal.
Não foi justo.
Doeu-me tanto, mas tanto.
Aos dez anos a miúda acalmou.
Aos dez anos este avô começou a ver a neta com outros olhos.
Agora este avô exagera no amor que tem pela neta.
Ao fim da tarde se ela demorar mais do que é costume começa logo a perguntar:
-A menina ainda não chegou?
-A menina a que horas chega?
Às vezes até cansa.
Ela quando chega vem à sala dizer:
-Olá avô.
O avô fica todo contente " baba-se todo"
Quando por algum motivo ela não o faz o avô fica sentido.
À mesa está sempre a meter-se com ela, gosta de a ouvir.
É que a miúda não se cala, e o meu pai acha-lhe piada.
Eu não.
Pois ela por vezes ultrapassa os limites daquilo que eu estabeleço.
Não é mal educada, mas tem por hábito dizer:
-Oh vô vai chatear pretos.
Esta frase é música para os ouvidos do meu pai.
Quando o avô está de cama é a neta que lhe vai levar o leitinho com mel.
Faz questão.
O avô fica todo babado.
As melhoras são mais rápidas.
Se vai sair com a amigas lá vem o relambório todo, é pior que eu.
Quando surge a conversa, quando lhe dizemos que ele não gostava da miúda, cala-se, ele sabe que é verdade.
O amor deste avô pela neta veio tarde.
Mas quando chegou tornou-se num amor maior que o de muitos pais e avôs por esse mundo fora.
Ninguém é obrigado a amar de imediato e incondicionalmente.
Há pais e avós biológocos que não amam os seus filhos, os seu netos.
Logo o meu pai não tinha obrigação de amar a sua neta.
Se o censuro?
Não.
Compreendo-o.
O meu amor pela Diana também não foi imediato, nunca é , é uma amor que se conquista hora a hora, dia a dia.
É um amor que cresce como uma planta, quando bem regada e cuidada.
O coração é o regador, o sangue que nos corre nas veias é a água que faz com que a planta cresça e floresça.
O coração do meu pai abriu-se um pouco mais tarde, mas muito a tempo.
Amar é uma arte, e nem sempre o artista tem inspiração.
A inspiração demora mas quando ocorre dela surge a mais linda obra de arte já vista.
E desta inspiração surgiu um amor que é uma obra de arte.