A mãe abandonou-a e entregou-a a ela e mais 3 irmãos a uma tia muito pobre.
A minha mãe teve que começar a trabalhar aos 7 anos.
A minha mãe e os irmãos.
Mas a tia embora muito pobre cuidou deles.
Mas tinham que trabalhar, mesmo assim passaram fome, comiam sopa de urtigas, uma sardinha tinha que dar para três.
A tia tinha uma filha mas mesmo assim aceitou-os.
Morreu com 93 anos.
Só podia ser assim, pessoas tão boas têm o direito a morrer tarde.
Não sofreu, morreu de velhice.
Quando a minha mãe está a ver um filme com o meu pai, este lê-lhe as legendas para que ela possa entender o que se está a passar, gsoto desta cumplicidade.
Se tenho vergonha da minha mãe?
Não, nunca.
Tenho orgulho.
Embora sem saber ler e escrever a minha mãe trata das contas da casa como ninguém.
Quando entrou o euro, ela adaptou-se melhor que eu, que ainda hoje falo em contos, a minha mãe não.Ninguém a engana, nem tente enganar pois é esperta como um rato.
A semana passada fomos tirar o cartão de cidadão.
Perguntei:
-Queres que entre contigo?
-Não, não é preciso, vou sozinha.
Mas eu fui e entrei com ela.
Precisou da minha ajuda para algumas perguntas.
Quando chegou a hora de assinar, enervou-se e não estava a conseguir.
Só saiam rascunhos, os rascunhos de toda uma vida, mas desta vez não estava a conseguir.
A senhora muito simpática disse para ela não assinar.
Eu disse:
-Não assines pois se precisares de o fazer em qualquer circunstãncia e assinatura tem que ser exactamente igual à que estás a fazer agora.
Não assinou.
Agora toda e qualquer coisa terá como assinatura o dedo, a impressão digital, já devia ser assim há muito tempo.
Já tentei ajudá-la em tempos a escrever o nome, mas nunca quis.
A minha mãe sente-se bem assim, esta situação nunca a perturbou.
A minha mãe é uma força da natureza pois isto nunca a diminuiu ou a fez sentir-se inferior.
Está sempre em cima dos seus "tamancos".
E ai de quem tente fazer dela "burra".
Nem têm tempo.
Tenho a certeza que se a vida lhe tivesse proporcionado estudar aminha mãe iria muito longe.
Mas a vida assim não o quis.
E ainda bem, pois provavelmente não seria minha mãe.
Seria mãe de outra pessoa qualquer, ou não.
Toda a gente aqui nesta "aldeia" onde vivemos a respeita e muito.
Não tem papas na língua.
Uma dia destes ia eu tomar o meu café no pão quente e estava lá esta força da natureza a regatear sei lá porquê, mas quase tenho a certeza que o senhor do pão quente " puxou" por ela, gosta de a ouvir.
Saiu e eu fiquei.
O dono do pão quente disse às pessoas que lá estavam:
-Esta mulher sempre foi assim, não tem papas na língua, eu gosto dela assim, não fala nas costas de ninguém, quem quer gosta, quem não gostar paciência, eu admiro desta mulher.
Nesta aldeia todos conhecem a minha mãe e aminha mãe conhece toda a gente.
Tal como o senhor do pão quente eu também tenho uma grande admiração pela minha mãe.
Por isso digo a partir do mês de Maio a minha mãe é uma impressão digital.
A S é uma pessoa maravilhosa, não é dada a cosquices, não entra em conflitos,não diz mal de ninguém,não prejica ninguém,não quer saber se hoje vens com um vestido ou umas sapatilhas novas, se vens de amarelo ou às bolinhas, com as outras colegas era doentio, quando vestia algo novo, era mirada de cima a baixo chegava a dizer que tinham visão raio x e me viam a roupa interior, tão doentio que passados uns dias já tinham comprado algo igual ou parecido.MULHERES!!!!!!!!!!! Mas a S não, trabalha, brinca e presta pouca atenção ao que a rodeia, sempre a admirei por isso, por não ser dada a intrigas, por ser tão boa mas tão boa pessoa.
Mas não vamos divagar.
A S sempre quis ser Mãe.
Nunca conseguiu.
Após vários exames, nem chegou à inseminação artificial.O problema era do marido.
Quando adoptei aconselhei-a a fazer o mesmo.
Vacilou e não quis dar ínicio ao processo, ela tinha 36 anos eu tinha 35, eu adoptei em 9 meses ela também o conseguiria.
A S vivia para o trabalho, para o marido e respectiva família dele.
Eu não.
Eu vivia para a minha família, para os meus amigos e para um sonho.
A irmã e o irmão imigraram, o pai abandonou-os há muito tempo, ainda eram adolescentes, decidiu ir viver para um lar.
A mãe foi para a aldeia.
A família da S é a família do marido.
Quando se juntou, decidiu abandonar os amigos e dedicar-se aquela relação.
Uma vez no emprego confessou.
-Se um dia algo não correr bem comigo e com o L não tenho amigos a quem recorrer, tenho noção disso.
-Tens-me a mim, mas concordo contigo, o teu circulo é muito limitado, mas és tão boa pessoa que ninguém te irá virar as costas.
-Mas eu não tenho ninguém, nem contactos, nada.
-Tens-me a mim.
Começou a chorar
-Não te preocupes, nada vai acontecer entre ti e o L.
Mas aconteceu, o L nunca soube, só eu, não passou de uma ilusão, ficou em segredo, o nosso segredo, e já esquecemos, e a relação da S com o L juntando o namoro, já vai em 25 anos.
Começou a falar em adoptar, ouvi e dei a minha opinião.
-Tu nunca vais adoptar.
-Porque dizes isso?
-Porque já tens um filho, o L, e um filho, filho mesmo iria tirar toda a atenção que lhe dás.
Não disse nada, sei que concordou.
Entretanto passado um tempo:
-O L conhece uma senhora na Segurança Social que vai meter uma cunha para adoptarmos um bébé.
-Não há cunhas, não vás nessa conversa.
Mas ela acreditava piamente no L
E tal nunca aconteceu, nunca falei no assunto, nem ela.
O tempo foi passando quando............
Sou chamada pela L a uma sala onde não nos pudessem ouvir e ela conta-me.
-Já meti o processo de adopção.
Não cabia em mim de alegria
-Mas vais ficar chateada comigo
-Porquê?
-Porque já o fiz à 5 anos
-Porque iria ficar chateada contigo?
-Porque quando meteste o teu processo eu fui a primeira pessoas a saber e eu escondi-te este segredo, o L disse que ias ficar zangada comigo.
Mas o L lá me conhece assim tão bem para dizer tal coisa!!!!!!!!!
-E???? O importante é que já o fizeste e eu estou muito feliz por ti, mas estás à espera há 5 anos?
-Sim, já começo a desesperar
-Que idade colocaste no formulário?
-Quero um bébe
-Mas isso é muito difícil, tu sabes, esperar 5 anos!!! Eu também não aguentaria!!!, vai lá e altera a idade,
-Provavelmente é o que vou fazer, vou falar com o L
Passados uns dias
-Falaste com o L?
-Sim
-E????
-Não quer alterar a idade, e o prazo prescreve quando eu fizer 50 anos.
Eu não sabia desta regra, desta lei, o meu foi tão rápido., nunca soube.
Mas já era de prever,o L não quer mudar a idade da criança a adoptar pelos motivos que mencionei,o L quer manter a relação que tem pois é-lhe muito conveniente, a S cede, não vai concretizar o seu sonho porque tem um companheiro egoísta e que a torna no fundo sua "escrava".
A S é escrava do L, e não faz questão de soltar as amarras, quando fôr mais velha é que vai ter noção de que nunca conseguiu concretizar o seu sonho, porque não tem vontade própria, porque não impõem.
Eu gosto do L, é um bocadinho chato, pois como o seu mundo também é muito limitado e fechado, quando vamos jantar ele não tem tema de conversa, a minha filha diz que não quer ficar perto dele pois é muito chato, e é verdade, algumas vezes não tenho paciência para ele,mas é o "marido"da minha S.
A S está a esquecer-se que tem 47 anos, faltam 3, até quando vai esperar para tomar uma decisão, bater o pé? Fazer valer a sua vontade?