Mãe, pára um pouco. Dois minutinhos só.
Sei que a ideia de parar não existe para ti, mas eu estou a pedir.
Baixa a frequência, senta-te no sofá, alguém cuidará do resto, acredita em mim.
Eu sei que não importa quantos anos passem, tu tens a eterna sensação de que és responsável por tudo.
Pela tua vida, pela minha, pela dos que nos rodeiam, pelo teu trabalho, pelo meu trabalho, por tudo,inclusive o que está absolutamente fora do teu alcance.
Sei que não adianta dizer-te que sou adulta, sei que nunca vais aceitar a ideia de que já não estás mais no comando.
Pois é, mãe.
Mas o facto é que me tornei adulta.
Não só por causa do trabalho, das responsabilidades, pelo facto de já ser mãe, pois eu já sou mãe.
Apercebi-me que era adulta num certo dia perdido no passado.
Dia em que engoli o choro para que tu não visses.
O dia em que disse em que estava tudo bem quando o peito estava cheio de fantasmas.
O dia em que esperei tu virares as costas para eu poder desmoronar.
Por quê? Porque eu sabia que, de uma maneira ou de outra, as coisas se ajeitariam.
E não ia ser através das tuas mãos.
Então, porquê te preocupar-te?
Porquê angustiar-te mais do que tu já te angustias por conta própria?
Mãe, eu parei de depender da tua barriga, parei de depender do teu peito, parei de depender da ajuda no banho, da muda das fraldas.
Mas tu nunca paraste de te preocupar.
Talvez te preocupes ainda mais agora, porque sabes que o voo é cada vez mais alto.
Lembras-te das centenas de vezes em que eu gritei “EU QUERO A MINHA MÃE!” quando era criança?
Na verdade eu não queria.
Eu precisava.
Precisava do teu colo, do teu beijo na testa, do teu cheiro.
Precisava, porque sem ti não havia chão.
Hoje eu não preciso, mãe.
Tu já me ensinaste a apertar os cordões dos sapatos, andar com o olhar sempre para a frente, levantar das quedas, limpar as lágrimas, rir de mim mesma e seguir em frente.
Mais do que me ensinar, tu foste o exemplo vivo disso.
Sério mãe, o mundo gira sem que tu o empurres.
E eu cá me viro sem que tu percas o sono.
Porque chegamos num ponto da vida em que eu perco o sono por te ver sem dormir. Essa dinâmica já não faz mais sentido.
O famoso “eu quero a minha mãe!” é agora agora eu quero-te. Mas quero-te tranquila, quero que ouças as minhas histórias,quero-te a rir comigo, opinando e discordando.
Não de peito apertado.
Não suspirando pelos cantos por achares que eu não vou encontrar o caminho certo.
Eu vou, acredita eu vou encontrar.
Tu me deste-me o melhor mapa.
Aceita meu presente este ano ano: uma relação de amor e de parceria, não mais de dependência, nem prática, nem emocional. Tanto minha quanto tua.
O meu presente, na verdade, é quase um pedido.
Esta noite, mãe, deita a cabeça no travesseiro sabendo que está tudo bem.
Que mesmo quando minha vida estiver a correr mal, tu não precisas de ficar com os olhos arregalados, a olhar para o teto à procura de solução.
Isso é cá comigo.
Tu construiste uma pessoa com o que havia de melhor em ti.
Deste o que tinhas e o que não tinhas para me fazer feliz e sólida.
E eu estou aqui, consciente da minha sorte e da minha força.
Olha por mim, pede por mim, orgulha-te de mim.
Deixa-me ser de novo a luz dos teus olhos, como fui quando era um pequena.
Não me iludo, porque sei que não vais parar de te preocupar.
Sei que é impossível.
Mas deixa-me hoje ser eu quem te abraça e te diz baixinho: está tudo certo.
Com um beijo às mães de sangue, mães de coração, mães que estão do outro lado das nuvens (mas sempre por perto), pais que também são mães e às tantas madrastas que são o avesso dos contos de fadas, que cuidam e amam outras crianças que decidiram abraçar como suas.