Como já disse a minha mãe sempre tomou conta de crianças.
A minha mãe adora crianças.
Começou por cuidar da primeira.
A palavra passou de boca em boca.
E era pedidos atrás de pedidos.
Tantas crianças nos passaram pelas mãos.
Tantas crianças cuidamos como se fossem nossas.
Tantas crianças amamos.
Hoje em dia são adultos.
Há aqueles que não vimos mais .
E há aqeules que ainda vamos vendo.
Tal como os filho, ganham asas e voam.
É a vida.
Mas todos têm um espaço no nosso coração e quando nos lembramos, contamos tantas histórias, e rimo-nos com algumas histórias, tantas, e regressamos ao passado, é tão bom
Mas uma criança em particular deixa-nos algo que nunca mais esquecemos.
A nossa Dulce.
A Dulce tinha dois anos quando começou a ver o filme " Bambi".
E via, e via, e via e não se cansava.
Mas havia um problema.
Uma vez chego a casa à hora do almoço e qual não é meu espanto quando me deparo com esta cena.
A minha mãe sentada no sofá com o Gustavo ao colo a rir-se e a Duce a chorar copiosamente.
Pergunto:
-Mãe a menina está a chorar porquê? Ralhaste com ela?
-Não filha, ela está a ver o Bambi e sempre que a mãe do animal morre ela chora e chora, que queres que faça?
E de facto ela só dizia
-Oh Dona Julia a mãe do Bami merreu
-Oh Paula a mãe do Bambi merreu.
Falei com a mãe da Dulce, em casa acontecia o mesmo.
Tomou uma decisão.
Devolveu o filme à amiga que lho tinha emprestado, pois a criança sempre que a mãe do Bambi morria fcava num pranto e não havia quem a conseguisse consolar.
Gosto de ouvir histórias de amor, gosto de conhecer pessoas que têm um casamento longo, nos dias que correm, digo do fundo do coração que fico muito feliz, para mim é a luz ao fundo do túnel, mas......
Há sempre um mas.
A P ficou viúva muito cedo.
Tinha duas filhas .
O marido morreu de repente, tinha 47 anos.
Fiquei incrédula.
Não queria acreditar.
Já não tinha ligação com a P.
Andamos a estudar juntas fomos grandes amigas, mas assim que começou a namorar com o falecido marido deixou tudo para trás.
Continuei com a minha vida.
Ela continuou com a dela.
Encontramo-nos quando a minha filha andava na piscina.
Sempre vestida de preto.
Não largava o preto.
Falamos de trivilidades e sobre as filhas.
Trocamos números de telemóvel.
Começamos a trocar mensagens.
Recebo uma mensagem dela a convidar-me para tomar o pequeno almoço.
Conversamos, relembramos velhos tempos.
Até que de repente a P começa a chorar.
Não entendi.
Começou a desabafar.
Após a morte do falecido marido, descobriu que este tinha amantes por todo o país, uma delas era vizinha deles e foi ao funeral.
Continuei calada.
Descobriu porque após 15 anos de casamento, e após a morte do marido decidiu ir ao computador dele.
Viu tudo no facebook.
Depois foi ao telemóvel, e viu tudo.
Com uma delas já tinha um relacionamento de 6 anos.
Perguntei qual era a maior dôr, a morte ou saber o que soube.
-Saber.
-Nunca contes ás tuas filhas, deixa-as ficar com a imagem que têm do pai.
-Não claro que não conto.
E chorava, eu não sabia o que dizer, ouvi apenas ouvi.
Preferia estar atrás de uma porta a ouvir esta conversa, tapar os ouvidos, não queria acredtar e fez-me deixar de acreditar cada vez mais, por isso não queria ouvir.
Confiava tão cegamente no marido que nunca se deu ao trabalho de ir ao computador, que segundo ela:
-Estava na sala, mesmo à minha frente, nunca tive curiosidade!!!!!!
E chorava, agarrei-lhe na mão e não soube o que dizer.
Ele trabalhava por turnos, ela também, as filhas muitas das vezes iam para os avós, nessa ocasião esteve lá em casa casa com uma das amantes durante uma semana.
Ela ia para o estrangeiro por motivos profissionais, foi nessa altura.
Nunca teria desconfiado? Nunca houve sinais? Se os houve não os quis ver?
Questionei-me tanto depois desta conversa!!!!!!!!
Os vizinhos de certeza que viram, mas todos se esconderam atrás da porta, quem não o faria? Quem teria coragem para lhe contar, sabendo que ela amava aquele marido tão cegamente?