CUIDADO COM A MINHA MÃE!!!!!!!!!AFINAL TEM UM CORAÇÃO DO TAMANHO DO MUNDO!!!!!!!!!!!
A minha mãe não é para brincadeiras.
Sim é verdade.
Mas tem um coração do tamanho do mundo.
Aqui na "aldeia" onde vivemos, todos nos conhecemos, uns melhores que os outros mas sim conhecemo-nos.
Conhecemos as histórias uns dos outros.
Com conta peso e medida como é óbvio.
Em frente ao meu prédio há um correr de várias casinhas.
Numa dessas casinhas vivia uma família com uma hsitória muito triste.
Nessa casinha viviam, o patriarca, um senhor alcoólico, o Carlos, filho deficiente, a filha com um filho deficiente profundo, uma filha e o marido o Sr. Armando, dos habitantes desta casa só sei dois nomes.
Quando passavamos na rua, ou quando ia com a miúda andar de bicicleta só ouvia discussões e muitos palavrões à mistura, o Carlos fazia muitas asneiras.
O Carlos é deficiente, mas contudo é autónomo, vai todos os dias para a instituição sozinho, de autocarro, mas era um rapaz muito violento, então quando estava mal disposto, eu sempre que o via atravessava a rua pois tinha-lhe medo, a minha mãe não, sempre se deu bem com ele.
O patriarca chegava a casa sempre alcoolizado.
Muitas vezes caía no chão e batia com a cabeça no passeio e lá vinha o INEM, tantas vezes o INEM veio a esta rua.
Uma vez caiu em frente ao quintal da minha mãe e foi ela que o socorreu, não sem antes lhe dar um sermão daqueles.
Outra vez o Carlos decidiu espreitar para dentro dos contentores de lixo doméstico e caiu lá dentro, a minha mãe que ia dar de comer aos coelhos ouviu-o e lá foi em seu socorro, e ao puxá-lo ia ficando lá dentro também.
Ficaram os dois a cheirar lindamente
E o carlos levou um daqueles sermões!!!!!!!!
Entretanto o Sr. Armando que sofria de problemas cardíacos faleceu.
Após o seu falecimento a esposa foi viver com um senhor com quem já andava.
Ficou o Carlos, um rapaz deficiente e o pai alcoólico sozinhos.
Foi o caos total.
O Carlos começou a não ir para a instituição.
O Carlos fazia as necessidades na rua.
O Carlos provavelmente não comia nem tomava banho.
O Carlos ia aos baldes do lixo na rua e se via uma garrafa abria-a e bebia o que lá estava dentro, isto eu presenciava da minha cozinha e ficava chocada.
Alguns patetas aqui da rua tinham por hábito enfiá-lo nos baldes do lixo, só porque sim, porque achavam pidada, mas argumentavam que o faziam pois o Carlos riscava-lhes os carros.
Será verdade?
A ser verdade porque o fazia?
Porque eles lhe faziam mal certo?
O Carlos podia ser deficiente mas tinha algum discernimento
Ele nunca riscou o carro do meu pai.
Era uma vida triste muito triste.
Daquelas vidas que ninguém deseja.
E o pai do Carlos continuava a chegar a casa alcoolizado.
Contei à minha mãe o que via o Carlos a fazer nos baldes do lixo.
E a minha mãe falava do facto de ele fazer as necessidades na rua, essa era a parte que mais a chocava.
A minha mãe sem mais nem porquê
-Deixa que eu vou tratar do assunto.
E assim foi.
Foi a casa de uma senhora influente aqui na aldeia e colocou-lhe o problema.
A senhora disse-lhe para ficar descansada que ia tratar do assunto.
A Senhora já conhece a minha mãe há muitos anos.
Já sabia de antemão que o assunto teria que ficar resolvido, pois a minha mãe não ia baixar os braços.
E assim foi.
O Carlos foi institucionalizado.
O Carlos com toda a certeza já usufrui de todas as refeições e do seu banhoe de tudo a que tem direito.
O Carlos já não anda nos baldes do lixo.
Entretanto o pai do Carlos morreu.
Ele há males que vêm por bem.
O Carlos com toda a certeza preferia estar em casa.
Ainda bem que não ficou.
O Carlos não sabe que o pai morreu.
Mas eu também nem se ele tinha percepção que tinha um pai.
Carlos onde quer que estejas e dentro dos teus limites espero que estejas bem.
Mas uma coisa é certa foram tantos os anos com a presença dele aqui na rua que ainda hoje falamos no Carlos e das suas peripécias, principalmente aquela em que a minha mãe ia ficando dentro do contentor de lixo doméstico